por Jorge Candeias
No momento em que pela primeira vez o sinal lhe atingiu os recetores embutidos no bico, o cisne nadava placidamente no pequeno charco de água acastanhada que constituía boa parte do seu mundo desde que, tanto tempo antes, para ele abrira os olhos. Parou imediatamente de nadar, permitindo que a leve inércia do movimento o levasse pela água, rodeado de ondinhas, fazendo-se travar apenas pelo atrito de patas abertas, imóveis e viradas para o fundo. Inclinou a cabeça, como que surpreendido, mas depressa pareceu perder o interesse. Não seria o primeiro falso alarme a causar-lhe um sobressalto de antecipação, não seria a primeira vez que captaria um algo qualquer que não voltava a repetir-se. Por isso, limitou-se a alisar rapidamente com o bico as penas do pescoço, depois as do peito até quase à linha de água e, antes de recomeçar a propulsionar-se com as patas, ainda gastou uns segundos a aconchegar melhor as asas dobradas sobre o dorso.