por José Eduardo Lopes
Na digna República dos Bananas, a concórdia era geral nos estratos superiores da sociedade. Os Bananas elegiam os seus representantes para o Senado, mais um chefe de Estado que se incumbia das missões mais solenes e decorativas. Havia deles para fingir que trabalhavam e que eram parte do aparelho produtivo da nação, e havia outros que dispensavam esse teatro supérfluo e existiam apenas para encher os seus ventres esbranquiçados e mercadejar cargos e influências. O único senão para a excelência da República dos Bananas, é que eles não estavam sozinhos. Os Bananas exploravam despudoradamente o trabalho servil do Cocos; eram estes quem verdadeiramente produzia a riqueza do país, quem lavrava os campos e mourejava nas minas e fábricas.
Mas lá veio um dia em que os Cocos dobraram a esquina do sofrimento de que falava Engels. Saíram a uma mesma voz dos seus descampados e tugúrios e, como as mãos e os pés dum mesmo gigante, começaram a exterminar a eito os Bananas, cujos corpos frágeis foram esmagados e pilados pelos robustos e encouraçados cocos. Num suspiro de Zéfiro, já não havia Bananas em lado algum, apenas os seus cadáveres e o ódio residual que todos os Cocos ainda nutriam por eles.
Agora, os Cocos detinham as fábricas e o senado, as minas e os palácios, mas havia hiatos e lacunas evidentes na orgânica da sociedade. Num instante pensavam nisso e, no instante seguinte, os Cocos deitavam o olho às laboriosas Uvas, ali tão próximas, úteis e prestáveis. Não seria uma ideia absurda conceder-lhes o privilégio de trabalhar nas minas, nos campos e nas fábricas; trabalho que só enobrecia quem o desempenhava e criava riqueza para todos. E os impantes Cocos tinham sérias dúvidas de que as Uvas, em toda a sua pequenez e fragilidade, pudessem recusar uma oferta tão generosa.
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